domingo, 21 de abril de 2013

Mergulho na desistência

Decidi desistir, é certo que deveria também desistir de mergulhar...mas cansei e assim cansada o que fazer a não ser deixar a desistência instalar-se em mim...da mesma forma que o ar preenche meu corpo...metendo-se pelos espaços para num eco silencioso ressoar dentro do silêncio sepulcral das infinitas montanhas que existem em mim...com ecos delirantes a repetir o que grito, multiplicando o pensamento e desdobrando-o...e hoje foi ela a desistência... decidida a desistir, decidi entender como se desiste... ato falho, poucas vezes desisti... e haja equilíbrio e força para fazê-lo...(mas decidir também é desistir, desiste-se de tanta coisa ao decidir-se fazer algo) e se eu desistir de tudo e todos como ajo...para onde vou... quantas decisões me impõe a desistência...(deveria desistir de escrever este tratado a desistência também) tudo passa a ser apenas um nada e o nada é sempre gigante e cheio de possibilidades e decisões e... me perco na apnéia longa deste mergulho e só não sucumbo pois lembro que eu estou em processo de desistência e quem desiste não pode decidir... todos os planos adiados...que planos? Os planos inúteis de fazer planos! Toda mudança suspensa, toda dor esquecida...os sonhos abafados...os amigos, que amigos?..não mais lembrados ...e o amor? O amor...como se desiste do amor e do ato de amar? Como se desiste do desejo de completar-se? Simples e, até seria doloroso se já não tivesse desitido não mais ter dor, desiste-se e pronto...mas não pode-se perder a ocasião... isto é a exceção a regra da desistência: desistir de tudo de todos, menos do momento... o humano momento de desistir... EU DESISTO, TU JÁ DESISTISTES..ELE JÁ DESISTIU HÁ MUITO TEMPO ...ELA NÃO IMPORTA, NÓS JÁ NÃO SOMOS POIS SE EU DESISTO...NÓS PASSA A SER TU E VÓS NEM SE USA, JÁ DESISTIU DE EXISTIR HÁ MUITO TEMPO E ELES? Sim, e eles...? É preciso anunciar a eles a desistência, senão ela não existe, não tem sentido...nenhuma dor ou angústia faz sentido sem platéia...logo eles precisam saber... (interrompo a desistência para buscar uma frase de impacto sobre desistência..., é bem verdade que poderia criar uma mas como o processo de desistência vai avançadoo em mim... desisto de escrevê-la! Vou apenas reproduzir algo pronto e deixar registrado que DESISTI...e isto inclui tudo, menos as exceções) Entre as frases de desistência, habita a resistência...nas frases verdadeiramente desistentes...todos incitam o permanecer, o seguir... vou desistindo pouco a pouco, em partes, em pedaços, por frases e palavras ...convenço a desistência que o melhor é desistir... mas é tarde e eu já decidi...desisto e como a desistência vai em ordem alfabética...desisto primeiro do Amor, desisto de dizer que amo, desisto de dedicar toda e qualquer poesia a ele e na busca da frase perfeita para exprimir este meu anseio, esta minha decisão...os olhos caem,  não numa frase mas  num verdadeiro tratado que tenta me convencer que do amor não se pode desistir... e assim a primeira coisa de verdade que faço deste mergulho é desistir...desistir de desistir... segue tudo na mesma... apenas desisto de hoje... amanhã tudo continua! A desistência é uma cobra tão traidora que morde o próprio rabo...desisto de escrever... amanhã quem sabe continuo se não voltar a desistir...pois se é preciso amar...desisto de desistir para perseverar...desistir também pode ser um ato revolucionário...tanto como decidir não desistir de amar...

sábado, 30 de março de 2013

Sobre busca, luz e outras coisas



Nesta vida existem coisas que estão ao nosso alcance... outras não... na verdade a maioria não está...como se houvesse um aviso prévio dizendo: 

o mundo não é assim ao alcance da mão...
é preciso alongar-se...
fazer um esforço...
saltar vez ou outra. 

Algumas serão rápidas... mas outras exigirão tempo...dias, semanas, meses, anos e até décadas para serem alcançadas...  Degustar as coisas alcançadas com persistência tem um sabor especial é bem verdade, mas não há uma receita!  Às vezes quando chega já não faz sentido, ou é tão menor e sem graça do que a víamos em nossos sonhos, lá no ponto onde nutríamos com o melhor adubo de nossas expectativas a planta de nossas doces e humanas ilusões... Noutras chega cedo demais e  nem percebemos a grandiosidade do momento...Na verdade na maioria das vezes que estamos nadando no mar da vida ,com alegria ou força, não percebemos o valor da braçada, a força e beleza da onda...  Depois de vencida observa-se de outro ângulo e percebe-se:

“Nossa eu estava lá! Sim era eu! Esta aqui é a mesma que estava lá!” 

Mas nem sempre seguimos permitindo sermos os mesmos... embora haja uma essência nossa que perdure...E dentro desta essência é que estão os sonhos, a ingenuidade, a pureza, a beleza, a doçura... Lá nela existem coisas que nunca morrem, ainda que  às vezes deixemos que ela seja sufocada, esquecida, aniquilada e, embora o mundo tenha sua parcela de culpa nisto, o único que realmente permite que ela seja sufocada somos nós... seja por medo, orgulho ou insegurança...
O amor que provém deste reduto de nosso ser é o mais fantástico, incrível e lindo... E aliás, tudo que provém deste reduto de nós mesmos faz sentido, tem cor, vida, luz... Ao mergulharmos a partir vida deste ponto... as cores sempre serão mais vibrantes... e todo esforço valerá a pena...e toda pena é pluma que nos faz levitar...  Este lugar de nós mesmos tem muito de coração... mas abarca bem mais... Quando deixamos a vida ser conduzida pelo ritmo de nossa essência... as coisas fluem...e se não acontecem rápidas... a espera não é um martírio, mas é apenas uma paciente certeza...de que tudo tem seu tempo...mas que o tempo de viver é o agora...mesmo que no agora caibam as mais fortes saudades e as mais desesperadoras esperanças... humanamente,  vez ou outra recuaremos diante daquilo que tanto queremos  e, exatamente, quando estiver ali na boca do lance, no pênalti ...no gol...
mas isto é física... todo movimento numa direção precede uma inércia...lembra de Newton? Das aulas de física? Pois bem ... a resistência do corpo ao movimento,  que faz que sigamos andando quando  o veículo freia, que pressiona o corpo para trás antes da arrancada ... resista sutilmente...apenas para preparar-se lindamente para o salto, para a caminhada, para a corrida...para a aproximação ...chegada ou fuga... e se tiver que parar pare... 
Redirecione o foco e pronto...salte! 
Num passado remoto andar foi um desafio... assim como falar e ler...
Se o caminho estiver confuso...como começam a ficar minhas palavras... pare...sinta os pés nos chão...permita-se colocar a cabeça nas nuvens... se o céu estiver nublado cinza... permita-se ver o sol que brilha por detrás delas... eterna é sua essência, não a situação ou o ponto em que você se encontra. Ao permitir elevar seu pensamento além das nuvens... veja a luz... e tenha certeza que a luz que brilha lá também brilha dentro de seu ser...e não paga imposto para viajar daqui até onde você quiser...deixe ela clarear o caminho... mas se não der para vê-la assim tão fácil...solicite a luz de alguém emprestada...mais ou menos como faísca para fazer a sua acender...como quem pede fogo, solicita o cigarro de outro emprestado para acender  o seu...  só que neste caso o fogo não vai acender algo para consumir seu fôlego... viver e andar...tem destas coisas... de força, de calor, de essência de luz...  mas na cena de nosso espetáculo de nome vida... somos nós que escolhemos a cor da luz e o iluminador para fazer da cena, geral, branca, em contra ou psicodélica... se a cena parecer escura...aguarde o segundo ato...não há Black out que perdure todo um espetáculo... se a luz não for de seu agrado... a atmosfera estiver fria...converse com iluminador...ou troque a luz, a cena, o espetáculo...só não deixe a essência esmorecer...pois a luz sempre surge...seja depois de uma noite de escuridão ou de dias chuvosos...e o sol nasce para todos só não sabe e não quer ver quem acorda tarde e não se estica em sua janela para ver a luz...para quem não  muda de janela... de casa...de bairro, de cidade, de estado, de país... sim... alcançar o que se quer ...é assim...mais ou menos...como esticar o pescoço da janela para ver a luz do sol... fazer um sinal ao iluminador para afinar o foco...  interpretar com força a cena do agora... ensaiar com dedicação e afinco  as cenas dos espetáculos que virão... e estar pronta para improvisar diante do que não pode ser previsto, do que virá de um jeito que jamais pudemos supor...