quinta-feira, 3 de julho de 2014

Mergulho na copa das copas

Depois de tanto tempo sem mergulhar, tive uma breve inspiração em meio a (mal e bem)dita copa das copas... mergulho, não no mar, mas ali mesmo no clássico calçadão da copa real: a copa-cabana... por um instante inerte flutuando, boiando,  copa babel...
Fosse o mar puro mergulharia ali também...nua... de ego, culpa e sonho...não é exatamente um samba o que retumba em meus ouvidos... embora tenha a sua essência ali,  nas coisas misturadas,   tão estratificadas... na copa cabana na copa futebol...na copa sonho de outras copas míticas que já não são...tudo é um todo tão igual e paradoxal, exageradamente contrastante... e eu de negro e pele branca, contrastando em mim mesma e no todo, tupiniquin de aparência gringa... à vontade em meio à vultos estranhos... Estranha em meio a pátria mãe gentil...
Estranheza e prazer... solidão plena em meio a tanta gente... como um orgasmo prolongado e silencioso, um gemido de prazer, o vento que bate na cara e nas pernas desnudas...os olhares que não vejo, pois há sempre um outro olhar a me inspirar... Talvez devesse cantar:

"copacabana esta semana o mar sou eu!" mas desde muito nada sou... e nada ser é o que me faz plena

sem perversidades a copa de que falo não é bem aquela a que todos se referem, mas o canto para me esconder de tantos cantos e pseudos encantos que criei para esconder as vozes que cismo de em mim silenciar...a cabana que todos levamos em nós quando entregues ao ato de amar...
um templo, uma capela, ou um esconderijo para amar incondicionalmente sem nada esperar...
e embora nada espere, inesperadamente meu telefone toca...e é o homem da minha vida...
meu pai... querendo saber o que estou fazendo, o que tenho aprontado, sonhado, que livro estou lendo...

" Estava aqui pensando o que tens feito, e te vi sorrindo de olhos brilhantes andando por copacabana, com um livro nas mãos...de quem é?"

meu pai um gênio me entende e me lê até a alma...

Não respondo, nem precisa... basta um sorriso...a distância, para fazer um pai herói, craque...mito...saber tudo e mais um pouco dos mergulhos que tenho dado...ter um pai assim é mais que ser campeão na copa das copas... independente da distância nosso jogo e nossos corações seguem sincronizados...sem tanta batucada...descompassada, como samba que toca enquanto caminho balançada, sem rumo...o telefone silencia...e sigo andando ...me permito seguir degustando o momento...
vou na direção do poeta, do forte...e ao final me encontro num ponto onde até Nossa Senhora poderia gozar, humana paz de ser... em seu mais nobre prazer...
êxtase...sim outro dia, sem programar, me vi diante dela, não da cabana, não da copa...
mas da própria...a Santa...branca e dourada...em cima de uma lua...
presa no Museu do Forte...quase num calabouço...a santa boliviana...mais brasileira que existe, a gringa das gringas...ou talvez a mais nativa das nativas santas das Américas, a inca - ou talvez tupiniquin: KJOPAC KAHUAÑA , ou queschua: QOPAQHAWANA (Qopa = azul turquesa, pedra preciosa e Qhawana = mirador)... a KWAN YIN das Américas...
nada pode ser mais copa do que ela... que escondida no forte... tem diante de si uma pedra...de nome pão, e doce como  açúcar da cana de nossa terra, que é, pelo menos neste instante passarela do mundo todo...

A copa das copas não é uma taça, um ou dois jogos, seleções e mais seleções, contusão de jogadores, concentração, e o ser brasileiro, ou o que for, no dia que a bola rola no gramado...a copa é outra coisa, mais ou menos como  a tigela de açaí, unanimidade entre os habitantes da babel construída onde devia ser apenas uma cabana...uma capela para admirar a pedra preciosa...
sinto o mundo ali sem ter que estar fora de casa embora como de costume a casa esteja distante de mim, de tudo...
 cabana...pode ser sinônimo de casa até... e tantas são as mágicas escondidas nas entrelinhas onduladas das calçadas da copa...a copa das copas a cabana das cabanas... a santa das meninas com fome, das putas que sonham...das  mulheres livres e apaixonadas...

mergulho na tigela de açaí...

"-Nossa como esta gringa fala bem o português!" disse a garota da casa de sucos, onde me deliciei no néctar de uma das esquinas da Nossa Senhora, a da copa, a da cabana...a do forte!

sim copa cabana esta semana a rainha de copas da copa das copas sou eu....
sem forte...sem norte...
mas com sorte...

 Santa copacabana em meio ao seu não sei que
seja volta e meia cabana a nos proteger
e dai-nos sempre a poesia nossa de cada dia
e os poetas de nosso viver

"açaí guardião!"
em meio a escuridão
mergulho inusitado, surpreendente, magnífico...
  braços abertos exatamente no ponto onde se possa,
 sem medos admirar a pedra preciosa...
tupiniquim e gringa
santa copa cabana...
boliviana brasiliana
acaba de me fazer transbordar, além da tigela de açaí...
rogai por nós