quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Solstício de verão



Mergulho de alma nua
Num céu de uma cor que não posso definir
não era laranja, vermelho nem rosa
era quase um mar coral

Um coqueiro solitário
a bailar na montanha
por detrás do riso solto
e das lágrimas contidas
e do que não sei como explicar

 Meu secreto esconderijo
Relicário
entre o nada
e lugar nenhum
  E  as palavras
a parecer pequenas
diante de cada  gesto sutil

Surgiu  assim
como jamais vi
na tela do cinema
nos sonhos
ou na televisão
Pôs de imediato
a bailar minha razão
justo no dia mais
longo do ano

Indescifrável

num ritmo sereno
suave compasso
fez o entardecer
parecer  incoerente
tridimensionalizou meu olhar
e o seu
e tudo o mais

 lógico
exato
insensato

Assim como eu
e assim como tudo
que há fora e dentro de mim
 O nada suspenso
 no solstício
de profundidade efêmera
cores só nossas
telas
desenhos
e fotografias
imagens 
de memórias
de momentos
pincelada de sonhos
sensação de pirueta
lugar incomum
Um cavalo branco
olhares infinitos
a se perder
 através
 da minha janela
lua cheia
overdose de emoções
tocando alma
eclipse lunar

coração suspenso
 esquecer a razão
tantas coisas
oníricas sim
e sem explicação
no dia do solstício de verão






segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Ao meu jeito


O que dizer quando nada mais pode ser dito.
Um olhar basta para entender, aquilo que não tem compreensão nem nunca terá

Por que calar
quando há todo um mundo para questionar?

Por que ser igual
quando há todo um universo de possibilidades
de ser, o que por instante não somos,
e que verdadeiramente queremos ser?

Depois:  negação.

"Não, não é para mim!"

"Não, não é assim!"

NÃO PODE SER

E pronto...não será!

Crer que tudo sei
que sempre soube
e sempre saberei

E a máxima
de que de verdade nada sei
e jamais saberei
caberá apenas  a mim

Ninguém tem a capacidade de dizer até onde pode ir a sua capacidade

Um milionésio de instantes
um piscar de olhos
 a possibilidade de ser

o que poderia ser e não ser
o diferente
o novo
e tudo
que há
 que sempre fui

 não aceitei
 não deixei...

e depois...

ah tem sempre um antes
 e um depois
e um talvez
e se...
se...
se...

SE...

O 'SE' é uma bosta!

Uma inconsequente besteira que algum infeliz um dia criou para atrapalhar
a felicidade alheia...

...depois?


NADA
nada vezes nada

Refletir...

é

de repente

tudo poderia ser diferente

Mas não é

E a todo instante tem a verdadeira capacidade
de ser diferente
totalmente distinto daquilo que não se é
e a todo instante se mostra para os outros


não é para mim
não
não
não
não
não

não é assim

Se cabe a dúvida


ih


se vestiu a carapuça
se serviu

pronto

E ficou bonita ?
Não!

Não precisa me dizer
não combina com a cor dos meus olhos
 com o meu jeito de ser
de viver
de andar

se cabe
assim assim

"Como uma luva"

Já é
Já foi

é o quero
é o que sei
 é este o jeito
a forma que desejo me mostrar
ou me esconder
ou fugir
ou saltar
ou criar ou imaginar

( Falta de ar)

ao meu jeito
sem peias
meias
pessoas...
alheias

não vão me dizer
o que posso ser
só se eu me permitir

ser EU
eu
eu

ao meu jeito...

se errar

erro do meu jeito

e se acertar
foi ao meu jeito que me permiti
ser diferente
crescer
mais e mais
intensamente


verdadeiramente FELIZ...

ou pelo menos meio assim

assim

assim


só não vai vestir a carapuça errada só para agradar...

quem quer que você seja o que não
sinceramente

não é digno de agrado

e lá vou eu
vestir a carapuça dos meus sonhos


e se virar SACI

saio pulando de sonho em sonho
numa perna só
e chego antes

do fim...

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Microondas de mim mesma

Estava tudo certo...
as coisas já encaixotadas.
louças embrulhadas.

Dentro das malas apenas as coisas mais queridas...
Tudo superfluamente indispensável.
Decisões tomadas
vida planejada

e os dias seguintes planejados minuciosamente
(como se a vida fosse o microondas)

num estalar de dedos
um vento soprou na porta
tão forte que arrebentou a fechadura

um furacão momentâneo
carregou a TV da década de 90
as malas

o roteador

meu modem

a caixinha em que havia organizado e reorganizado  minuciosamente na véspera
aqueles desesperadores fios que seguem insistindo em amarrar nossas tecnológicas vidas

sigo com os dedos
os anéis todos ficaram

mas minhas orelhas agora estão desnudas
como se o que falassem a alma
me pusesse agora surda

já não sei mais onde foi parar meu plano de vôo
ao ventar o plano A
oxidou a faísca do plano B
já não sei onde está mais nada

cadê o microondas de mim mesma?
o controle remoto que me faz mover?
 o roteador que sintoniza minha idéias

mergulho de novo no vazio
no nada sei de mim mesma
nada vejo

por mais que se saiba para a direção que se vai
a vida em alguma esquina
 tende a se apresentar
como um mergulho no nada sei

um universo paralelo que se abre
aos pés

que infiltra as idéias

turva as águas do límpido mergulho

 oxigênio?
pouco
as vezes
inusitada apnéia
nadar no nada
para não  me perder no nada são
das divagações

 o nada  perceber
como um ingênuo novo tudo

ao redor
inesperados e despreparados
mergulhos

técnica
 e
equipamento
indispensáveis

( ESTE MÖDULO DO CURSO VIDA AINDA NÃO FOI MONTADO
verifique seu cadastro ou atualize o micro das curtas ondas de seus atordoados
e insanos desejos)
se não conseguir
volte ao início do menú



que  técnica  aplicar
no meio
deste nada?

nada
além de nada

DECIDI: desprogramar

que toque o pagode
não vou resistir

"deixa a vida me levar"

se der pé eu paro de nadar

e se não der pé vou  cansar

ou
boiando no mar
curtir o céu

mergulhos no nada sei
transferidos
mergulhos do tudo sei
desprogramados
desconfigurados
desatualizados

esquina da vida
  esquina da casa
em que não sei se moro
me DEmoro

lá vem o elemento surpresa
ah tudo bem

troco o longo, ropical e paradisíaco mergulho
pelo básico mergulho de butiquim


pois mesmo que nada saiba
sem mergulho não dá para
ficar

tô indo
preciso
mergulhar