quinta-feira, 3 de julho de 2014

Mergulho na copa das copas

Depois de tanto tempo sem mergulhar, tive uma breve inspiração em meio a (mal e bem)dita copa das copas... mergulho, não no mar, mas ali mesmo no clássico calçadão da copa real: a copa-cabana... por um instante inerte flutuando, boiando,  copa babel...
Fosse o mar puro mergulharia ali também...nua... de ego, culpa e sonho...não é exatamente um samba o que retumba em meus ouvidos... embora tenha a sua essência ali,  nas coisas misturadas,   tão estratificadas... na copa cabana na copa futebol...na copa sonho de outras copas míticas que já não são...tudo é um todo tão igual e paradoxal, exageradamente contrastante... e eu de negro e pele branca, contrastando em mim mesma e no todo, tupiniquin de aparência gringa... à vontade em meio à vultos estranhos... Estranha em meio a pátria mãe gentil...
Estranheza e prazer... solidão plena em meio a tanta gente... como um orgasmo prolongado e silencioso, um gemido de prazer, o vento que bate na cara e nas pernas desnudas...os olhares que não vejo, pois há sempre um outro olhar a me inspirar... Talvez devesse cantar:

"copacabana esta semana o mar sou eu!" mas desde muito nada sou... e nada ser é o que me faz plena

sem perversidades a copa de que falo não é bem aquela a que todos se referem, mas o canto para me esconder de tantos cantos e pseudos encantos que criei para esconder as vozes que cismo de em mim silenciar...a cabana que todos levamos em nós quando entregues ao ato de amar...
um templo, uma capela, ou um esconderijo para amar incondicionalmente sem nada esperar...
e embora nada espere, inesperadamente meu telefone toca...e é o homem da minha vida...
meu pai... querendo saber o que estou fazendo, o que tenho aprontado, sonhado, que livro estou lendo...

" Estava aqui pensando o que tens feito, e te vi sorrindo de olhos brilhantes andando por copacabana, com um livro nas mãos...de quem é?"

meu pai um gênio me entende e me lê até a alma...

Não respondo, nem precisa... basta um sorriso...a distância, para fazer um pai herói, craque...mito...saber tudo e mais um pouco dos mergulhos que tenho dado...ter um pai assim é mais que ser campeão na copa das copas... independente da distância nosso jogo e nossos corações seguem sincronizados...sem tanta batucada...descompassada, como samba que toca enquanto caminho balançada, sem rumo...o telefone silencia...e sigo andando ...me permito seguir degustando o momento...
vou na direção do poeta, do forte...e ao final me encontro num ponto onde até Nossa Senhora poderia gozar, humana paz de ser... em seu mais nobre prazer...
êxtase...sim outro dia, sem programar, me vi diante dela, não da cabana, não da copa...
mas da própria...a Santa...branca e dourada...em cima de uma lua...
presa no Museu do Forte...quase num calabouço...a santa boliviana...mais brasileira que existe, a gringa das gringas...ou talvez a mais nativa das nativas santas das Américas, a inca - ou talvez tupiniquin: KJOPAC KAHUAÑA , ou queschua: QOPAQHAWANA (Qopa = azul turquesa, pedra preciosa e Qhawana = mirador)... a KWAN YIN das Américas...
nada pode ser mais copa do que ela... que escondida no forte... tem diante de si uma pedra...de nome pão, e doce como  açúcar da cana de nossa terra, que é, pelo menos neste instante passarela do mundo todo...

A copa das copas não é uma taça, um ou dois jogos, seleções e mais seleções, contusão de jogadores, concentração, e o ser brasileiro, ou o que for, no dia que a bola rola no gramado...a copa é outra coisa, mais ou menos como  a tigela de açaí, unanimidade entre os habitantes da babel construída onde devia ser apenas uma cabana...uma capela para admirar a pedra preciosa...
sinto o mundo ali sem ter que estar fora de casa embora como de costume a casa esteja distante de mim, de tudo...
 cabana...pode ser sinônimo de casa até... e tantas são as mágicas escondidas nas entrelinhas onduladas das calçadas da copa...a copa das copas a cabana das cabanas... a santa das meninas com fome, das putas que sonham...das  mulheres livres e apaixonadas...

mergulho na tigela de açaí...

"-Nossa como esta gringa fala bem o português!" disse a garota da casa de sucos, onde me deliciei no néctar de uma das esquinas da Nossa Senhora, a da copa, a da cabana...a do forte!

sim copa cabana esta semana a rainha de copas da copa das copas sou eu....
sem forte...sem norte...
mas com sorte...

 Santa copacabana em meio ao seu não sei que
seja volta e meia cabana a nos proteger
e dai-nos sempre a poesia nossa de cada dia
e os poetas de nosso viver

"açaí guardião!"
em meio a escuridão
mergulho inusitado, surpreendente, magnífico...
  braços abertos exatamente no ponto onde se possa,
 sem medos admirar a pedra preciosa...
tupiniquim e gringa
santa copa cabana...
boliviana brasiliana
acaba de me fazer transbordar, além da tigela de açaí...
rogai por nós




domingo, 21 de abril de 2013

Mergulho na desistência

Decidi desistir, é certo que deveria também desistir de mergulhar...mas cansei e assim cansada o que fazer a não ser deixar a desistência instalar-se em mim...da mesma forma que o ar preenche meu corpo...metendo-se pelos espaços para num eco silencioso ressoar dentro do silêncio sepulcral das infinitas montanhas que existem em mim...com ecos delirantes a repetir o que grito, multiplicando o pensamento e desdobrando-o...e hoje foi ela a desistência... decidida a desistir, decidi entender como se desiste... ato falho, poucas vezes desisti... e haja equilíbrio e força para fazê-lo...(mas decidir também é desistir, desiste-se de tanta coisa ao decidir-se fazer algo) e se eu desistir de tudo e todos como ajo...para onde vou... quantas decisões me impõe a desistência...(deveria desistir de escrever este tratado a desistência também) tudo passa a ser apenas um nada e o nada é sempre gigante e cheio de possibilidades e decisões e... me perco na apnéia longa deste mergulho e só não sucumbo pois lembro que eu estou em processo de desistência e quem desiste não pode decidir... todos os planos adiados...que planos? Os planos inúteis de fazer planos! Toda mudança suspensa, toda dor esquecida...os sonhos abafados...os amigos, que amigos?..não mais lembrados ...e o amor? O amor...como se desiste do amor e do ato de amar? Como se desiste do desejo de completar-se? Simples e, até seria doloroso se já não tivesse desitido não mais ter dor, desiste-se e pronto...mas não pode-se perder a ocasião... isto é a exceção a regra da desistência: desistir de tudo de todos, menos do momento... o humano momento de desistir... EU DESISTO, TU JÁ DESISTISTES..ELE JÁ DESISTIU HÁ MUITO TEMPO ...ELA NÃO IMPORTA, NÓS JÁ NÃO SOMOS POIS SE EU DESISTO...NÓS PASSA A SER TU E VÓS NEM SE USA, JÁ DESISTIU DE EXISTIR HÁ MUITO TEMPO E ELES? Sim, e eles...? É preciso anunciar a eles a desistência, senão ela não existe, não tem sentido...nenhuma dor ou angústia faz sentido sem platéia...logo eles precisam saber... (interrompo a desistência para buscar uma frase de impacto sobre desistência..., é bem verdade que poderia criar uma mas como o processo de desistência vai avançadoo em mim... desisto de escrevê-la! Vou apenas reproduzir algo pronto e deixar registrado que DESISTI...e isto inclui tudo, menos as exceções) Entre as frases de desistência, habita a resistência...nas frases verdadeiramente desistentes...todos incitam o permanecer, o seguir... vou desistindo pouco a pouco, em partes, em pedaços, por frases e palavras ...convenço a desistência que o melhor é desistir... mas é tarde e eu já decidi...desisto e como a desistência vai em ordem alfabética...desisto primeiro do Amor, desisto de dizer que amo, desisto de dedicar toda e qualquer poesia a ele e na busca da frase perfeita para exprimir este meu anseio, esta minha decisão...os olhos caem,  não numa frase mas  num verdadeiro tratado que tenta me convencer que do amor não se pode desistir... e assim a primeira coisa de verdade que faço deste mergulho é desistir...desistir de desistir... segue tudo na mesma... apenas desisto de hoje... amanhã tudo continua! A desistência é uma cobra tão traidora que morde o próprio rabo...desisto de escrever... amanhã quem sabe continuo se não voltar a desistir...pois se é preciso amar...desisto de desistir para perseverar...desistir também pode ser um ato revolucionário...tanto como decidir não desistir de amar...

sábado, 30 de março de 2013

Sobre busca, luz e outras coisas



Nesta vida existem coisas que estão ao nosso alcance... outras não... na verdade a maioria não está...como se houvesse um aviso prévio dizendo: 

o mundo não é assim ao alcance da mão...
é preciso alongar-se...
fazer um esforço...
saltar vez ou outra. 

Algumas serão rápidas... mas outras exigirão tempo...dias, semanas, meses, anos e até décadas para serem alcançadas...  Degustar as coisas alcançadas com persistência tem um sabor especial é bem verdade, mas não há uma receita!  Às vezes quando chega já não faz sentido, ou é tão menor e sem graça do que a víamos em nossos sonhos, lá no ponto onde nutríamos com o melhor adubo de nossas expectativas a planta de nossas doces e humanas ilusões... Noutras chega cedo demais e  nem percebemos a grandiosidade do momento...Na verdade na maioria das vezes que estamos nadando no mar da vida ,com alegria ou força, não percebemos o valor da braçada, a força e beleza da onda...  Depois de vencida observa-se de outro ângulo e percebe-se:

“Nossa eu estava lá! Sim era eu! Esta aqui é a mesma que estava lá!” 

Mas nem sempre seguimos permitindo sermos os mesmos... embora haja uma essência nossa que perdure...E dentro desta essência é que estão os sonhos, a ingenuidade, a pureza, a beleza, a doçura... Lá nela existem coisas que nunca morrem, ainda que  às vezes deixemos que ela seja sufocada, esquecida, aniquilada e, embora o mundo tenha sua parcela de culpa nisto, o único que realmente permite que ela seja sufocada somos nós... seja por medo, orgulho ou insegurança...
O amor que provém deste reduto de nosso ser é o mais fantástico, incrível e lindo... E aliás, tudo que provém deste reduto de nós mesmos faz sentido, tem cor, vida, luz... Ao mergulharmos a partir vida deste ponto... as cores sempre serão mais vibrantes... e todo esforço valerá a pena...e toda pena é pluma que nos faz levitar...  Este lugar de nós mesmos tem muito de coração... mas abarca bem mais... Quando deixamos a vida ser conduzida pelo ritmo de nossa essência... as coisas fluem...e se não acontecem rápidas... a espera não é um martírio, mas é apenas uma paciente certeza...de que tudo tem seu tempo...mas que o tempo de viver é o agora...mesmo que no agora caibam as mais fortes saudades e as mais desesperadoras esperanças... humanamente,  vez ou outra recuaremos diante daquilo que tanto queremos  e, exatamente, quando estiver ali na boca do lance, no pênalti ...no gol...
mas isto é física... todo movimento numa direção precede uma inércia...lembra de Newton? Das aulas de física? Pois bem ... a resistência do corpo ao movimento,  que faz que sigamos andando quando  o veículo freia, que pressiona o corpo para trás antes da arrancada ... resista sutilmente...apenas para preparar-se lindamente para o salto, para a caminhada, para a corrida...para a aproximação ...chegada ou fuga... e se tiver que parar pare... 
Redirecione o foco e pronto...salte! 
Num passado remoto andar foi um desafio... assim como falar e ler...
Se o caminho estiver confuso...como começam a ficar minhas palavras... pare...sinta os pés nos chão...permita-se colocar a cabeça nas nuvens... se o céu estiver nublado cinza... permita-se ver o sol que brilha por detrás delas... eterna é sua essência, não a situação ou o ponto em que você se encontra. Ao permitir elevar seu pensamento além das nuvens... veja a luz... e tenha certeza que a luz que brilha lá também brilha dentro de seu ser...e não paga imposto para viajar daqui até onde você quiser...deixe ela clarear o caminho... mas se não der para vê-la assim tão fácil...solicite a luz de alguém emprestada...mais ou menos como faísca para fazer a sua acender...como quem pede fogo, solicita o cigarro de outro emprestado para acender  o seu...  só que neste caso o fogo não vai acender algo para consumir seu fôlego... viver e andar...tem destas coisas... de força, de calor, de essência de luz...  mas na cena de nosso espetáculo de nome vida... somos nós que escolhemos a cor da luz e o iluminador para fazer da cena, geral, branca, em contra ou psicodélica... se a cena parecer escura...aguarde o segundo ato...não há Black out que perdure todo um espetáculo... se a luz não for de seu agrado... a atmosfera estiver fria...converse com iluminador...ou troque a luz, a cena, o espetáculo...só não deixe a essência esmorecer...pois a luz sempre surge...seja depois de uma noite de escuridão ou de dias chuvosos...e o sol nasce para todos só não sabe e não quer ver quem acorda tarde e não se estica em sua janela para ver a luz...para quem não  muda de janela... de casa...de bairro, de cidade, de estado, de país... sim... alcançar o que se quer ...é assim...mais ou menos...como esticar o pescoço da janela para ver a luz do sol... fazer um sinal ao iluminador para afinar o foco...  interpretar com força a cena do agora... ensaiar com dedicação e afinco  as cenas dos espetáculos que virão... e estar pronta para improvisar diante do que não pode ser previsto, do que virá de um jeito que jamais pudemos supor... 

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Pátria da poesia de minha saudade




És a pátria distante
Das minhas mais humanas saudades
Das minhas mais divinas sensações
És mais que um aglomerado de cidades
Mais que um universo afrodisíaco de recordações

És parte de minha energia transcedental
Minha melhor iguaria
Meu banquete extra sensorial
Pátria emocional e intelectual
Onde cabem um sem fim de sentimentos
Os mais sensacionais pensamentos

Recanto onírico
Das mais loucas alucinações
Reserva ecológica de meus mais adolescentes sonhos

Teu desejo é um estado
Que me desnuda a razão
Uma multidão
Unida numa só respiração
Grito de gol
Leveza essencial a minha inspiração

Um lugar que não sei explicar
Não uma cidade
Ou um país
Todo um universo particular
O mais entorpecente vinho
Poesia vibrante ao mais lindo pôr de sol

Mais que as águas cristalinas
Pedaço de livro
Interessante capítulo
um louco lugar
todo um vale
saudade poética de meu ser
sem pedir licença
invade a cena  principal dos sonhos meus
iluminando minhas certezas e incertezas
sonho de consumo
que a distância
consome os lábios meus
aquece a minha alma

És mais que uma saudade
De uma pátria que não é minha.
És a ausência de minha razão
A iluminar minha emoção...


quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Desejo, dúvidas e Amor





Por mais que digam que existe desejo sem amor...eu insisto em não acreditar neste fato...
Tenho minhas dúvidas quando me desejam, bem verdade, e quando desejo também me pergunto qual a fronteira que pode existir entre um e outro, pois sempre tenho a nítida impressão que desejo até pode ser louco desejo...mas jamais será isento de uma parcela de amor...ainda que esta parcela pese  humanamente desigual na balança dos sentimentos... desejar é sim amar...ainda que seja amar o ato de desejar...a resposta que alcançar o objeto desejado pode dar... amar o prazer que existe inevitavelmente no desejo alcançado... desejo é fome...e fome é sempre prazer...mesmo que o prazer habite em algo a que cremos que não amamos cotidianamente, ainda que aja a negação do amar...
Eu estou com fome...e com fome me ponho a comer arroz com feijão com se fosse caviar...( ou vice versa) e o prazer do desejo saciado...sempre tem uma parcela de: 
 eu queria e alcancei...
e ao alcançar ...
que delícia! 

Me lambuzo na resposta do desejo...e quem diz que isto não é temperado de amor... ???

Desejo um corpo...
O tenho ...
E ?
Por que desejo?  

Por que amo o prazer que me dá tê-lo nas mãos ou na imaginação...amo a sensação do prazer ...mas amar esta sensação será apenas uma atitude egóica...? Mera satisfação do ego e nada mais???
Quando deseja-se quer sim se ser correspondido ...e o desejo mútuo não será o início do amor ? o elemento que dilui e/ou decanta as resistências deste em nós?  a substância reveladora?

Não falo aqui de amor de mãe e filho...falo do amor carnal, sexual e espiritual e de todos os desdobramentos que possam ser irradiados através da vontade louca de dividir sensações que do corpo ascendem a alma e da alma ao corpo e ao mundo e sabe-se mais onde...

Amor que deseja tocar-se, ver-se e amar-se como resultado do desejo sentido, do desejo incessante... desejo do outro em si de si no outro...
Mas ser desejada sempre nos põe em dúvida!
E eu me pergunto ...
Por que o medo?
Mais ainda se desejo também... qual a insegurança que habita no desejo que me faz crer que ele existe isento do amor...? É uma dúvida sem explicação...

No coração não poderiam existir as  idiotas  regras sociais, onde  o desejo é ruim, é feio ...
onde existam as resistências ao desejo de se deixar ser desejado.

Desejo é ótimo! 
Ter a quem desejar é mais que demais! 
Ser desejada é um presente! 
E quando o desejo é mútuo o que dizer? 
Por que complicar? 
Por que resistir?

A resistência não seria também um objeto de se fazer desejar ...testar o tamanho do desejo... medir o desejo  do outro?

Entendê-lo se faz tão simples e complicado como amar...

O que eu digo ...
( embora seja ...faz o que eu digo mas não o que eu faço)

Se estiver sendo desejada, e desejar ...
dispa-se das asas de anjo e entregue-se 
deixe-se loucamente amar pelo desejo de quem quer lhe envolver!
Pelo desejo de quem está loucamente a te desejar!

Da forma que for possível ...
e buscando o impossível que há no fato de contactar-se pelo desejo e pelo amor...

Tudo é sempre divino ...basta que exista prazer...não apenas o prazer do gozo físico ...
mas o prazer de saber que na vida cabe algo mais que simplesmente proibir, dosar...
Tempere o desejo e amor com sinceridade e se deixe levar ...

Mas se estiver desconfortável... 
abra seu coração ... 
descomplique o que te complica e encontre o que quer... 
ou tenha certeza que não é isto que quer!

Aceitar os sentimentos é o mais difícil a fazer nesta vida... 
sejam eles sentimentos provindos do desejo,
da dúvida 
ou 
do amar!

 É simples e fácil dizer que se odeia, mas falar do desejo, aceitar o desejo...e ter coragem para dizer:

 Eu te desejo, Eu te quero, Eu te amo ...

 Isto faz a cabeça girar... e se for para girar...gire no chão, na cama...deixe a imaginação girar!

gire com o amor que habita no desejo mútuo.


Nesta vida não se vai a lugar nenhum sem desejar...


deseje, 

se deixe desejar...



e sobretudo

ame e se deixe amar...
( do jeito que for do jeito que der)



...

escrita ao som do seguinte mantra: 

http://www.youtube.com/watch?v=TDUdT5z_CBU





terça-feira, 30 de outubro de 2012

Mergulho na ilusão


Iludir-se é vital...ainda que não deva  tornar-se habitual...
Eu me iludo ...tu te iludes...
E todos nós num momento ou noutro nos iludiremos... 
A ilusão é quase como o ar
 está em tudo e não a vemos...
e paradoxalmente a vemos até quando não está...
e a vemos do jeito que queremos...
é como o tratamento que damos a imagem de nome vida que temos.
Um photo shop pessoal nas vivências, 
coisas, 
lugares, 
pessoas, 
pseudo amores
...
é uma luneta mágica que surge no olhar, 
envolve o coração
e num passe de mágica faz colorir
 toda e qualquer razão que a vida possa ter.
Oxida a lógica e todo e qualquer fato.
Tem seu lado varinha de condão, 
faz que vejamos o pão seco sem manteiga
como alfajor...
crossaint com nutella...
brioche com creme...

Ainda que seja uma distorção da realidade 
causada por nós mesmos

não podemos esquecer que ela
é também uma forma dissimulada de otimismo e de força
e habita nos mais puros e vívidos sentimentos 
fazendo que o olhar se poetize frente a 
inexorável realidade mundana
e até nos dê poderes mágicos de enxergar coisas
viajar no tempo 
e no espaço
dominar os sonhos

É um alucinógeno delicioso...que faz a vida ficar tão linda
as pessoas tão magníficas, 
os momentos tão especiais...

e acaba sendo fácil até mesmo nos iludirmos frente a ela mesma

As atmosferas que envolvem a ilusão são tão incríveis...
maravilhosas
apaixonantes

e voar com elas torna-se até simples
normal 
natural...

e botar os pés no chão totalmente desnecessário...

A minha ilusão é que diante dela 
haja quem se iluda também comigo 
por mim
como me iludo pelos outros...
pois a vida fica tão sem vida sem cor 
sem AR 
ao vivenciá-la sem ilusão
extinguem-se as esperanças

Eu me iludo ...
e tenho pedido aos céus, 
a Deus e as forças sobrenaturais superiores 
que conheço e desconheço 
para que salvem minhas ilusões
salvem meu olhar poético(patético) e colorido 
frente as pessoas, 
as coisas 
salvem minha pureza
frente ao mundo

e que embriaguem-se com a ilusão 
do que eu também possa ser
do que eu não sou e nem serei
mas que ilusoriamente sonhei ser


E eu 
e você que está me lendo neste instante
 também somos ilusões
a poetisa e o leitor
todos ilusórios 
e belos ...
lindos...
aconchegantes
sábios 
espiritualizados
intelectuais
excitantes!

A ilusão arrasta como forte correnteza toda razão que possa existir...
e nesta enxurrada traz tantas coisas interessantes, 
tantas sensações
que não sucumbir a ela deixa tudo num vazio.

mas...se...
 através da ilusão não sabemos como as coisas são por si mesmas, 
como podemos ter certeza de que elas não o são? 

como podemos estar seguros de que a ilusão é de fato ilusória? 

Se a ilusão existe e é criada no cérebro 
como podemos ter certeza de que é uma ilusão
e não a razão de tudo? 

e se tudo é ilusão 
também o somos...
e se o somos
de que serve nos desiludirmos com os outros? 

pois bem
nós também somos a ilusão que causa desilusão no olhar do outro...

ao fim só me resta crer que se tudo é uma ilusão...
a realidade também é uma ilusão
logo não há nada mais real e humano que iludir-se

não nos iludamos...
iludir-se é o que há de mais verdadeiro nesta vida

só não deixemos que ela nos sufoque com seu véu inebriante
de perfeição!
não permitamos que não nos permitam 
de  vivê-la intensamente
 no antes 
no agora

no depois! 





Se você não entender estas palavras
console-se com a ideia de que elas 
não existem
são apenas
a minha
e a sua 
ilusão...

( ou não!?) 




sexta-feira, 24 de agosto de 2012

"Andiamo a casa!?" - devaneio sobre a palavra casa



"A Casa é onde estou ...a casa é onde quero estar!"

Esta é a canção que me vem em mente quando o trem parte da estação... mais uma entre tantas, passadas e outras esperadas... o que relato aqui...sonhei (talvez) quando adormeci dentro trem...

Na plataforma vejo que os olhos já distantes  permanecem em mim e... inacreditavelmente sei onde e como olham...

O trem se move... sinto medo ... um vazio talvez... e a costumeira vontade de chorar sob controle a olhos nus.. dentro de mim choro convulsivo...
 Lembro da sensação da minha primeira partida...quando deixei a casa dos pais para morar noutro país ...a sensação é igual... como se ali na estação  ficasse para trás minha casa...

Os olhos meus e de quem fica perdem-se na plataforma da estação já longínqua ... e eu vejo-os ainda!
Basta um instante para que eu já não esteja mais ali...

Estou dentro do carro...
 e depois de um dia no mar e passeios singelos por uma terra de sonhos...
 tenho a nítida impressão de ter um dejavu...ao ouvir a frase pronunciada docemente:

"Andiamo a casa?"

Casa?

Suspiro profundamente em meu dissimulado íntimo blindado... não sei se o dono dos doces olhos com sua alma sensível percebe o mergulho que involuntariamente sou conduzida ao ouvir a palavra que me diz...
e assim ...nas maravilhas mil de minhas fantasias e ilusões sou sugada a um país de nome casa...
 como se caísse no tal túnel da delirante personagem ...
 o que ecoa durante a queda:

CASA...CASA...CASA...CASA...CASA...CASA...CASA...

Instantaneamente pedaços de canções vem a memória... misturados e em diferentes volumes... é o ritmo que a palavra casa me conduz...e lá estou eu na infância... enquanto desenho uma casa cantando entre lápis de cores e pedaços de papéis...

"era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada..."

http://www.youtube.com/watch?v=ipjly96rzxA

estranho pois a impressão de casa que tenho é justo esta ...sem teto...sem nada...
mais uma vez a infância dá seu ar da graça falando forte a minha alma ...é a súbita sensação que percorre meu íntimo diante da queda ...

"mas era feita com muito esmero na rua dos bobos número zero!"

sim eu sou uma boba... e assim no mergulho inusitado do sábado a noite ...onde todo mundo espera algo...
outra canção ...mescla-se a anterior até sobrepujá-la...

"já morei em tanta casa que nem me lembro mais, eu moro com meus pais..."

A música é da adolescência, só não lembro se da real ou da tardia...

http://www.youtube.com/watch?v=FCwmj-R3h8k

Quantas casas me vem na lembrança, num piscar de olhos dos olhos que me olham ... a casa dos pais...
quanto tempo não moro na casa dos pais...mas lá é sempre um porto seguro, ainda que nem exista mais, ainda que os pais partam para terras distantes onde trens e aviões não podem alcançar...
em algum momento, mais cedo ou mais tarde voltamos para casa deles, a casa dos que são e foram eles em nós... O alicerce, a estrutura da casa que carregamos em nós... E na palavra lá estou eu em casa, família reunida a mesa..."Lar, doce, lar..." e na parede o quadrinho já velho"hei de vencer..." ainda que a pintura da parede não esteja de acordo... o lar sempre acolhe, mesmo sendo uma remota lembrança de um passado que lembra uma utopia, um sonho impalpável...Na involuntária queda que persiste, mergulho nos diversos cômodos de tal palavra...alguns um pouco incômodos de serem pensados...

Casa, casa, casa...

"Quem casa, quer casa..."

"E ela por que não se casa, não se casou...não se casará?"

De que casa fala o homem que tenho sabe-se lá até quando ao meu lado?
De que casa?

No meio do mergulho sinto cheiro de pão quente e ouço latidos de cachorros...
sim este sem dúvidas é um dos maiores indícios de casa, de lar que tive nos últimos tempos....
Me sinto sugada pela saudade do lar que me habitei a ter ao lado de meus fiéis companheiros de 4 patas....mas volto rápido do delírio para de volta refletir de forma consciente sobre a casa a que se refere quem me fala...mas me perco no caminho de volta e o que vejo é uma pixação da janela do trem:

"Deus salve minha doce ilusão, Deus salve meus doces sonhos..."

"-Salve!"
é assim também que as pessoas se cumprimentam vez ou outra no local que estou...ou estava...
como se precisássemos ser todos salvos deste mundo insano de casas sem fim...

Vejo que o carro procura o melhor ângulo, o melhor ponto, o local ideal bem próximo a casa!

Não, eu não estou sonhando!
( ou estou?)
Temos uma casa e é para lá que vamos! ...
O que mesmo que eu lhe respondi?
Ah sim...

"- Por mim é indiferente ir para casa agora ..."

Não...eu não posso ter dito isto...
é obvio que eu impensadamente me enganei ...
eu estou louca para ir para casa ...

Ao ver que o carro está estacionado constato mais uma vez que a casa de que me fala ou falava o homem dos olhos de amêndoas doces, o homem ao meu lado... não está distante...

 ah então esta tal de casa não é um mito...uma utopia...algo impalpável... ilusória...

"Vedi!? Oggi ho parcheggiato vicino a casa!"

Subimos os degraus a mágica cidade de loucas e circulares vielas de casas caiadas com flores nos balcões...

Nos olhamos e rimos...

"Sarà che oggi troviamo a casa nostra!"

Encontrar a casa...a nossa casa...que delícia...a proposta inconscientemente acoplada a dúvida da busca...numa cidade nas alturas de brancas nuvens ...
Passamos pela igreja, pela pequena praça...luzes coloridas no caminho e ali logo a frente ....sei que ao final da ruela temos que dobrar a esquerda como indica nossa posição política.
No fim do beco o número 11 de tanta inspiração indica o destino final.

Lá dentro tudo tão acolhedor que me permito acreditar que cada detalhe, cada coisinha ali colocada foi escolhida a dedo por mim, por nós...ou talvez por alguém que tenha o nome muito semelhante ao meu!
As almofadas com querubins, o prato branco com sutis corações dourados preso a parede...o quadro com o Santo Antônio...e os móveis herdados de família...e juro até que chego a reconhecer num bordado os meus pontos tortos.

Me sento no sofá, puxo uma cadeira para esticar as pernas...e nem sei bem ao certo porque lhe revelo que uma das coisas que mais amo nesta vida é chegar em casa e me atirar ao sofá...este ato sempre faz com que eu me sinta em casa...
Vemos um filme, outro e mais outro...eu cochilo (com discrição) várias vezes...
Até esqueço do devaneio sobre a palavra casa, de tão aconchegante que é o momento...
Na cena de um dos filmes onde uma linda atriz italiana canta enquanto bota as crianças para ninar...recordo de novo da palavra...e dos desenhos de crianças...e ainda que eu não tenha os peitos da atriz gosto da cena...tanto como gosto de crianças...e me permito pensar que ali mesmo sob aquele teto secular existem crianças a ninar, crianças para contar histórias...os olhos me olham olhar a cena do filme e parece que podem ler meus pensamentos...sim ele sabe no que estou pensando ... ao olhar a cena do filme é como se visse também meus pensamentos... E assim involuntariamente expresso escrachadamente através de meus olhos sonolentos o humano desejo de toda mulher... é impossível dissimular o que se sente quando se tem sono.

Saímos para jantar...sensação de que conheço a todos que andam por ali ...e que todos já nos conhecem...
me permito observar de fora a cena em que estou inserida... o cenário em que estou... os simpáticos e poéticos personagens... sou tragada de volta para o momento, para dentro da cena...
decido por os pés no chão, para não voar de novo... esfriou e há um certo vento...pode ser perigoso voar... lhe observo ... que lindo está ... e me olha e fala...sim...eu ouvi ele dizer:

"quando torniamo a casa guardiamo altro film?"

 ah a palavra de novo
casa... casa...casa...
sim ele sente-se em casa, pois até rouba comida do meu prato e molha o pão no molho levando a boca...

e voltamos a casa
 nos colocamos os dois juntos ao sofá para ver um outro filme...
sim estamos em casa...

reflito mais uma vez sobre o humano e cotidiano ato de estar em casa...
viver em uma casa,
ter um lar é coisa boa!

Saboreio aquele segundo como um alfajor...
como fazia com as azeitonas na janta e na minha infância...
degusto como quem degusta os melhores vinhos e me entorpeço
como quem flutua
e lembro que eu flutuei céu a fora ao pôr de sol

sim a vida é louca e dá voltas...e quantas voltas ela deu para nós estarmos ali?

Caio na real e digo a mim mesma, que o vinho está fazendo efeito e que ali não é minha casa, lembro que casa é uma coisa que eu tenho lutado por anos para não ter, que casa é raíz, e que eu nunca quis ser árvore...
Triste dedução...eu não tenho casa...
 a música do cantor de minha terra vem como se trazida pelo vento ou por alguma estrela errante... volta...

 "A casa é onde estou, a casa é onde quero estar..."

Sim eu estou aqui!
eu quero estar aqui!
ah pára pensamento...pára!

Meus pensamentos voam...e eu coloco de novo os pés no chão
este chão que piso mais sei que não é meu...

"Eu sinto os meus pés no chão! Eu estou aqui! AQUI!"

Como me disse o mestre  é preciso pensar, raciocinar e ver-se fora:

Aonde eu vou?
Como vou?
Onde e como eu quero chegar?
Devo fazer com tanto entusiasmo e olhar nos olhos dos que estão em volta...sem formalismo...e arriscando fazer coisas que ainda não faço...e descobrir por que ainda não consigo fazer...e das coisas que faço sem pensar...por que as faço???

A casa existe...
O lar sempre sobrepuja tudo!
e eu em paz me vejo de fora, deitada comodamente no sofá, envolta por seu abraço,  olho em seus olhos...

Me vem a lembrança seus olhos próximos aos meus
e que ele me perguntou o que me faltava... eu como sempre falei algo impensado e respondi sem responder...afinal, sempre tenho a sensação de que me faltam tantas coisas ou de que tenho tanto...

Mas ali...eu vi que o que me faltava era isto...
a casa...o amor...
singelo ou louco...
o círculo para me proteger... o muro redondo... e ali naquele instante perfeito onde nada parecia faltar lembrei das crianças olhando pela janela do trem, das crianças brincando e correndo em volta das árvores...e da busca nas linhas da mão para descobrir  se elas virão algum dia...
O que me falta acho que pode ser isto ...a família... a casa... as crianças, os cachorros...e o sofá...

algo que case com minhas artísticas, zens e indignadas ideias, falta a casa dos sonhos tornar-se real...com tudo que tenho direito, bons filmes, flores na janela, um delicioso sofá e uma agradável companhia...

volto a palavra, a canção, a estação...
ao olhos que me olham profundamente depois das habituais correrrias que sempre envolvem minhas partidas...
mergulho mais uma vez nos seus olhos de amêndoas doces para não esquecer
da morada de sua alma,
 do vento delicioso de sua terra
daquele sol a acariciar minha pele...
do ar puro a entrar livremente meus pulmões
da luz
e de todas as cores e sabores

e sinto o desejo de ali estar,
 e a vontade de ir é já de voltar...

Parto com a sensação de que ali nos seus olhos eu sempre terei morada certa...
(mesmo que isto seja apenas um sonho meu, uma ilusão)
dentro do trem tudo o que me permito é pensar em casa...
e sonho um dia chegar em casa...
estranho é que a sensação não é de que estou voltando para casa,
 mas sim de que acabo deixar o lar,
 o doce lar dos sonhos meus...

"a casa é onde estou..."

Estou no trem...

 "e o trem partiu da estação..."


"A casa é onde quero estar..."

No trem tudo o que penso é em casa e ...

Onde quero estar?
Com quem quero estar?
Como quero estar?

O que me falta? O que?
Já sinto falta de tudo e de todos ...
Desperto ao ouvir alguém dizer:

"tutto a posto!"

instintivamente respondo

"- Sí sí síiiiiiiiiiiiiiiiiiiii..."

raciocino bem e digo então:

"Nooooooooooooooooooooo..."


"andiamo a casa!"

...

"o tempo é minha casa..."
e um novo tempo começou depois desta partida
deste sonho
deste devaneio
deste mergulho na casa ...


A casa é uma ilusão...

e que Deus salve e proteja minha doce ilusão...


http://www.youtube.com/watch?v=j6rw0e5er7k