quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Nas rotas de Marco Pólo





Na minha vida há um marco
Notável divisor de águas
Que surgiu de surpresa nas rotas
Intocadas da seda azul
Que envolve meu sentir

Este marco não é o pólo
(nem o pollo)
É o fascinante belo relativo
Mergulhado
no meu Oceano


('frio na barriga'
me entorpece )


Dúvida

Sem saber
(talvez) sem pretensão
Tira-me o sono
Coloca em cheque minha razão
É o próximo que está distante
E mesmo estando
A Léguas relativamente incalculáveis
Desbrava meu ser
Disseca de forma indolor
minhas tolas emoções

Especiaria do oriente
bálsamo ao meu louco viver
sem saber dá o brilho ao meu verde olhar
ritmo a bossa do meu caminhar

E é difícil não desejar sucumbir
a tentação de brasileiramente
tentá-lo



Olhando de soslaio

Surge quieto no canto esquerdo da tela de mim mesma


Quando dou por mim
Já estou fora de mim
a Deslisar nas infinitas vias
Que se vão
No silencio da noite
ou
Pelo desertos do movimentado
cotidiano do meu viver



já não me sinto mais aqui
Fico prá lá de Bagdá
Num outro pólo de meu pensar

Abandono meu racional sentir



E entre dois pólos
os dois extremos
há todo um mundo
por desbravar
(mundofísico
mundo sensação)
linha imaginária
quase infinita
separa –me
do marco real
e o vento a guiar-me
nortear minha alucinação
na medida inconseqüente
de minhas nada objetivas reflexões
busco o eixo

longa respiração





volto ao marco zero




e com minha batucada
carnavalesca
desvio Marco pólo do oriente
e quem se desorienta sou eu
No mar do meu nada mais sei


No imã que me atrai
pólo oposto a me arrebatar
Bate o vento medo
que sempre se põe a me transtornar
tudo pode ser loucura
Disparate de minha razão
Perda total dos sentidos
meu insano observar...

Mas que seja
Marco
Já não me importo
não tem como negar
marco além de marco é pólo
E isso não tem como explicar






_________________________________________


Ligeiro glossário para os que não sabem o que é um marco:



cada uma das extremidades do eixo imaginário da Terra;
nome dado às regiões vizinhas dessas extremidades;
cada uma das duas extremidades opostas de um íman ou de uma pilha eléctrica;
núcleo;
centro;
extremidade;
termo ou ponto oposto a outro;
norte;
guia.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Viagem do mundo em quadrado















O real invade
em quadrado

virtual,
sem igual...


Tomou conta das minhas idéias
Levou-me para onde consigo viajar

na flutuante inércia virtual.

Me olha atento pelas infinitas janelas
Através das portas que se abrem
Sem chaves


E minhas emoções vão saltando
do real para o virtual
do virtual para o real
e eu já nem sei se estou lá dentro
na caixa maravilhosa do mundo contemporâneo
que nem Alice em seu deleite de maravilhas sonhou.


Ou se estou aqui fora no vento frio da porta
e da janela aberta
que vem cessar um pouco do indecente e maravilhoso inferno tropical...


Eu assim assim
um pouco perto
meio longe de mim...

Em alguns momentos verdadeiramente eu
n’outros indecorosa personagem surreal

E de lá para cá
de cá para lá
saltam seres de um e outro mundo


O mundo que me cerca
vai ficando em quadrado
vai se compondo magnificamente
e volta e meia não sei se estou aqui fora

ou lá dentro

O que esta ao meu redor vai saltando
para dentro do mundo tecnológico
gigante
redondo
unido pelo quadrado
da tela do meu computador


Vai ganhando outras terras
um infinito de cores.
Brilhantes efeitos fascinantes


E meus pensamentos
de mãos dadas com meu coração pulam
para dentro do mundo em quadrado

E já não sei se de fato estou aqui
ou em quadrado
do outro lado.

Espero
o paradoxal grito calado
do quadrado

retangular.

No canto do cúbico
quadrado
meus pensamentos

em tela plasmática
se encontram
no nada sei
que quero saber

E já não sei se eles aqui estão
se eu aqui estou

Não sei se enquadrei
quadrados sonhos

meu coração
já nem sei


mergulho em tecnológica alucinação
e assim em quadrado
creio sim que tudo é permitido
até mesmos encontrar marcopolo
para desbravar o mundo real
e transformar
o meu quadrado coração

em bola balão
mundo louco redondo
e quadrado de Deus
tão nosso!!!

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Reencontrando a essência ...


Existem coisas que acontecem na vida da gente muito estranhas...
Não estranhas no sentido de feias, assustadoras, ao contrário...
Estranhas de sensacionais,
Especiais, fascinantes.
Acredito sempre que tudo tem o seu por quê!
Que tudo tem a sua beleza, e o que quer que cruze o nosso destino trará sempre a sua contribuição...
Outro dia fui numa festa de aniversário de criança...
Ai, ai, ai...
É meu fraco não nego!
Criança é uma das coisas mais belas e encantadoras do mundo: por sua pureza, sua espontaneidade, alegria... E por infinitos adjetivos que levaria dias e dias para descrever aqui.
Mas... Voltando a festa...
Era do afilhado de um primo meu, não primo irmão, não primo amigo, não primo confidente, não primo parceiro.
Primo...
Daqueles que nem entende o grau de parentesco que você tem com ele...estava passando uns dias com minha tia, lhe fazendo companhia e ela foi convidada ao aniversário, eu também tive que ir...
O que aconteceu neste dia foi mais forte do que eu!
A festa estava deprimente no quesito alegria. Mesmo com uma linda decoração de circo, com palhaços nas paredes e por todos os lados.
Tinha o símbolo do palhaço, mas faltava a energia do palhaço!
A alegria do palhaço!
E eu ali com a minha tia que também não conhecia ninguém na festa !!!
Eu sentada numa festa com pessoas que nunca tinha visto na vida, exceto minha tia, 'o primo iceberg' e sua namorada que eu havia conhecido há apenas meia hora atrás.
Crianças paradas, adultos bebendo...
Alguma comida sendo servida!
E a peruca do palhaço me acenando!
A energia do palhaço gritando dentro de mim!
Pedindo para sair e mudar aquela festa!
Afinal de contas por que eu estava ali?
Levantei e fui com minha tia ver a mesa do bolo.
Inventando algo para passar o tempo.
Resolvi analisar o palhaço da decoração.
A peruca estava solta.

Era só colocar...
Conseguir alguma roupa!
Meias coloridas...
Minha blusa era amarela...
(Por algum motivo em especial troquei de blusa antes de sair de casa e fui de amarelo).
Voltei para mesa com a tia!
Tédio tão grande que até o aniversariante dormiu num canto.
Levantei para ir ao banheiro...
Em minha trajetória cruzou-se a da mãe do aniversariante...
Pensei: “É agora!”
Ela disse que eu ficasse a vontade...
Cumprimentei –a pela decoração e perguntei se não teria
animação,
palhaço,
brincadeira...
Ela sorriu triste!
E naquele instante pude ler na expressão de seu rosto todo esforço que ela havia empreendido para fazer aquela festa. O sorriso amarelo da moça durou meia fração de segundos, mas veio prenhe de toda uma história...

Vendo o desconforto involuntário que havia causado, quis romper aquele longo silêncio imperceptível a olhos nus, e perguntei enfaticamente:
-Não tens uma roupa de palhaço aí? Ou alguém que possa consegui-la!
Sua expressão mudou de cor. Seu tempo era outro, sua voz, seus olhos, seu sorriso...
Até sua pele ganhou novo tônus!
“Por quê? Você quer se vestir de palhaço?”
Respondi já com o palhaço dando saltos no picadeiro de meu olhar!
Fui tomada por uma aura mágica, e minha cara foi pouco a pouco tornando -se cara de palhaço. Minha alegria: alegria de palhaço.
Na hora ela saiu atrás da mãe dela para ver o que podia conseguir!
A expressão de seu rosto com alegria de palhaço, migrou  para impotência de mãe que sente que o 1º aniversário de seu primeiro filho podia não ficar na história.
Aniversário é história!
É ritual! É comunhão...
Aniversário é uma fatia de vida do bolo de nome tempo!
E tudo isto estava ali na trajetória invisível que percorria o meu olhar até o dela. Naquele instante eu tive o poder de ler seus pensamentos! E falei:
-Você consegue um estojo de maquiagem?
Ela disse que conseguia e saiu quase correndo da minha frente...
Não deu outra, enquanto ela foi buscar a maquiagem, eu fui em direção ao palhaço da peruca multicolorida, e ele inexplicavelmente possuía outra peruca por baixo daquela que tomei emprestada. Eu juro neste instante ele piscou o olho prá mim! E assim aconteceu com todos os outros palhaços da decoração: os da mesa, os do bolo... os das paredes...
Quando passei por eles fui aplaudida de pé!
Eles sorriam, gritavam, cambaleavam, davam piruetas de alegria!
E só eu enxerguei isto naquele momento, por que a energia que gritava em mim era a mesma que estava neles: a energia mágica do palhaço!
Arranquei um pano da decoração para fazer de saia... Peguei um dos diversos narizes vermelhos e uma das gravatinhas borboleta que estavam timidamente sendo distribuídos como lembrança.
Quando ela chegou com a maquiagem o palhaço já estava em mim!!!
Fiz a maquiagem no capricho, dentro das possibilidades.
E deixei o palhaço saltar de mim...
Deixei minha essência vir à tona...
Ao me olhar no espelho enxerguei verdadeiramente EU!
Realmente ali estava a essência de mim mesma: o palhaço...
Quando minha tia veio ver o que estava acontecendo, pude vê-la sorrindo como nunca havia visto. Eu sabia que ela estava precisando muito sorrir!!!
Mas quando ela bateu na porta do banheiro quem estava lá não era mais a Luciáh ou a Maria era o palhaço!
Batizado posteriormente de “Escovinha”.
Um palhaço no banheiro!
Isto é arte contemporânea!
Isto é performing art!
E ninguém se incomodou!
Depois me coloquei como espectadora de mim mesma: alongamento associado à respiração!
Descontração enérgica nos músculos da face!
E pedi para uma pessoa do público privado, digamos assim, ir chamar a anfitriã da festa para baixar o som e entregar as roupas e os óculos de Maria para a sua tia.
Respirei,

Coloquei a voz na medida...

E lá foi o Palhaço apresentar-se
Cantar,
Dançar
Brincar...
Despertei sem querer o aniversariante de seu sono para que ele pudesse viver o dia de seu primeiro aniversário comungando do presente que lhe trouxe.
Cheguei de mãos abanando na festa por que a alegria não se embrulha!
O Escovinha,  nome que ele ganhou de um convidado, saiu à francesa, inspirado não sei em quem!
Quando Maria retornou para festa parecia que estava em outro lugar.
E estava num fantástico mundo de alegria onde todos comungavam sem vergonha ou medo o direito de ser feliz! A sintonia estabeleceu-se.
Como se todos estivessem numa mesma respiração.
Luciáh Maria quase invisível voltou escondida atrás de seus óculos e observava atenta com seus claros olhos míopes a tia que sorria.
E  parecia não entender por que o pai do aniversariante lhe servia tanta cerveja!
Tudo passou a ter outra energia, até o gosto da cerveja estava melhor. O bolo foi dos melhores que provei! (e olha que não sou chegada a bolo, mas aquele comi e repeti.)
Os salgadinhos ficaram deliciosos, os docinhos sensacionais.

A música viva!
E ao olhar aquilo tudo sorri com minha tia por vê-la sorrir...
Por ver que eu tinha feito a diferença!
Ao ir embora me despedi do palhaço da decoração. Agradeci-lhe o empréstimo da peruca.
A força...
E sobre tudo o reencontro de mim com a minha essência!
Agradeci pelo palhaço que ele despertou em mim.
...
Naquele dia relembrei o tamanho do poder que podemos ter, da força que move montanhas! E do quanto a alegria contagia...
É possível que eu nunca mais reencontre aquelas pessoas, mas sei que ficarei na lembrança de cada uma ...
Ou melhor minha essência ficará...


O mais genial da essência das coisas é que quanto mais a deixamos pelo caminho, mais ela se fortalece em nós.

-------------------------
Deixo aqui o aviso:
Tenha
cuidado ao me convidar para sua festa
Ou se quiser me levar de penetra a algum lugar.
Vá que meu palhaço desperte!!!

Aquele abraço!

sábado, 6 de setembro de 2008

A deriva no NADA sei...




Eu queria poder fugir


e também aqui ficar




Eu queria ir


me perder


e me encontrar




Analisando em profundidade


já passei da marca


permitida ao meu


impensado mergulhar




já não sinto o ar


nem dentro


nem fora de mim




já não entendo o ser


perdido em seu vão


e ilusório bem estar




tão pouco entendo


o amar




perdi o que era belo


esqueci 

o que foi


o que não é


o que quer ser 
mas nào tem coragem de por inteiro se desnudar




entre o desespero e o pesadelo


perdida no meio do mar


simplesmente num infinito nadar




sem ar


pelo mar


por terra


por magia


por maravilha

&




entre virtudes


vazia de um indecifrável


silêncio virtual




inquietude real


angústia insistente


fascinante




No meio do mergulho


tudo insano


todos loucos


normais demais


já não era


já não sei


se é


ou talvez


um nunca foi


algo ficará


e o tanto passará






se vazio está


se encheu da ausência


infinitamente gritante


força que já não sei






parei


ar rarefeito


a penetrAR




meu corpo




pulMÃO




e dentro dele silêncio sepulcral


átrio


catedral de areia


meu corpo até o sem fim


e eu tão perto e distante




tudo dentro e fora de mim


como mariposas verdejantes...


fosforescentes


ao invés do ar


oceano perdido


e elas a nadAR


no nada


como se tudo ali estivesse


sem ser


sem estar




se era mergulho


afoguei-me no nada


no sei


no não sei




ansiei




mas nada posso afirmAR


me falta AR


e nada sei


nada


a desejAR


nada


a declarAR


apenas que não sei o que virá




...