quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Reencontrando a essência ...


Existem coisas que acontecem na vida da gente muito estranhas...
Não estranhas no sentido de feias, assustadoras, ao contrário...
Estranhas de sensacionais,
Especiais, fascinantes.
Acredito sempre que tudo tem o seu por quê!
Que tudo tem a sua beleza, e o que quer que cruze o nosso destino trará sempre a sua contribuição...
Outro dia fui numa festa de aniversário de criança...
Ai, ai, ai...
É meu fraco não nego!
Criança é uma das coisas mais belas e encantadoras do mundo: por sua pureza, sua espontaneidade, alegria... E por infinitos adjetivos que levaria dias e dias para descrever aqui.
Mas... Voltando a festa...
Era do afilhado de um primo meu, não primo irmão, não primo amigo, não primo confidente, não primo parceiro.
Primo...
Daqueles que nem entende o grau de parentesco que você tem com ele...estava passando uns dias com minha tia, lhe fazendo companhia e ela foi convidada ao aniversário, eu também tive que ir...
O que aconteceu neste dia foi mais forte do que eu!
A festa estava deprimente no quesito alegria. Mesmo com uma linda decoração de circo, com palhaços nas paredes e por todos os lados.
Tinha o símbolo do palhaço, mas faltava a energia do palhaço!
A alegria do palhaço!
E eu ali com a minha tia que também não conhecia ninguém na festa !!!
Eu sentada numa festa com pessoas que nunca tinha visto na vida, exceto minha tia, 'o primo iceberg' e sua namorada que eu havia conhecido há apenas meia hora atrás.
Crianças paradas, adultos bebendo...
Alguma comida sendo servida!
E a peruca do palhaço me acenando!
A energia do palhaço gritando dentro de mim!
Pedindo para sair e mudar aquela festa!
Afinal de contas por que eu estava ali?
Levantei e fui com minha tia ver a mesa do bolo.
Inventando algo para passar o tempo.
Resolvi analisar o palhaço da decoração.
A peruca estava solta.

Era só colocar...
Conseguir alguma roupa!
Meias coloridas...
Minha blusa era amarela...
(Por algum motivo em especial troquei de blusa antes de sair de casa e fui de amarelo).
Voltei para mesa com a tia!
Tédio tão grande que até o aniversariante dormiu num canto.
Levantei para ir ao banheiro...
Em minha trajetória cruzou-se a da mãe do aniversariante...
Pensei: “É agora!”
Ela disse que eu ficasse a vontade...
Cumprimentei –a pela decoração e perguntei se não teria
animação,
palhaço,
brincadeira...
Ela sorriu triste!
E naquele instante pude ler na expressão de seu rosto todo esforço que ela havia empreendido para fazer aquela festa. O sorriso amarelo da moça durou meia fração de segundos, mas veio prenhe de toda uma história...

Vendo o desconforto involuntário que havia causado, quis romper aquele longo silêncio imperceptível a olhos nus, e perguntei enfaticamente:
-Não tens uma roupa de palhaço aí? Ou alguém que possa consegui-la!
Sua expressão mudou de cor. Seu tempo era outro, sua voz, seus olhos, seu sorriso...
Até sua pele ganhou novo tônus!
“Por quê? Você quer se vestir de palhaço?”
Respondi já com o palhaço dando saltos no picadeiro de meu olhar!
Fui tomada por uma aura mágica, e minha cara foi pouco a pouco tornando -se cara de palhaço. Minha alegria: alegria de palhaço.
Na hora ela saiu atrás da mãe dela para ver o que podia conseguir!
A expressão de seu rosto com alegria de palhaço, migrou  para impotência de mãe que sente que o 1º aniversário de seu primeiro filho podia não ficar na história.
Aniversário é história!
É ritual! É comunhão...
Aniversário é uma fatia de vida do bolo de nome tempo!
E tudo isto estava ali na trajetória invisível que percorria o meu olhar até o dela. Naquele instante eu tive o poder de ler seus pensamentos! E falei:
-Você consegue um estojo de maquiagem?
Ela disse que conseguia e saiu quase correndo da minha frente...
Não deu outra, enquanto ela foi buscar a maquiagem, eu fui em direção ao palhaço da peruca multicolorida, e ele inexplicavelmente possuía outra peruca por baixo daquela que tomei emprestada. Eu juro neste instante ele piscou o olho prá mim! E assim aconteceu com todos os outros palhaços da decoração: os da mesa, os do bolo... os das paredes...
Quando passei por eles fui aplaudida de pé!
Eles sorriam, gritavam, cambaleavam, davam piruetas de alegria!
E só eu enxerguei isto naquele momento, por que a energia que gritava em mim era a mesma que estava neles: a energia mágica do palhaço!
Arranquei um pano da decoração para fazer de saia... Peguei um dos diversos narizes vermelhos e uma das gravatinhas borboleta que estavam timidamente sendo distribuídos como lembrança.
Quando ela chegou com a maquiagem o palhaço já estava em mim!!!
Fiz a maquiagem no capricho, dentro das possibilidades.
E deixei o palhaço saltar de mim...
Deixei minha essência vir à tona...
Ao me olhar no espelho enxerguei verdadeiramente EU!
Realmente ali estava a essência de mim mesma: o palhaço...
Quando minha tia veio ver o que estava acontecendo, pude vê-la sorrindo como nunca havia visto. Eu sabia que ela estava precisando muito sorrir!!!
Mas quando ela bateu na porta do banheiro quem estava lá não era mais a Luciáh ou a Maria era o palhaço!
Batizado posteriormente de “Escovinha”.
Um palhaço no banheiro!
Isto é arte contemporânea!
Isto é performing art!
E ninguém se incomodou!
Depois me coloquei como espectadora de mim mesma: alongamento associado à respiração!
Descontração enérgica nos músculos da face!
E pedi para uma pessoa do público privado, digamos assim, ir chamar a anfitriã da festa para baixar o som e entregar as roupas e os óculos de Maria para a sua tia.
Respirei,

Coloquei a voz na medida...

E lá foi o Palhaço apresentar-se
Cantar,
Dançar
Brincar...
Despertei sem querer o aniversariante de seu sono para que ele pudesse viver o dia de seu primeiro aniversário comungando do presente que lhe trouxe.
Cheguei de mãos abanando na festa por que a alegria não se embrulha!
O Escovinha,  nome que ele ganhou de um convidado, saiu à francesa, inspirado não sei em quem!
Quando Maria retornou para festa parecia que estava em outro lugar.
E estava num fantástico mundo de alegria onde todos comungavam sem vergonha ou medo o direito de ser feliz! A sintonia estabeleceu-se.
Como se todos estivessem numa mesma respiração.
Luciáh Maria quase invisível voltou escondida atrás de seus óculos e observava atenta com seus claros olhos míopes a tia que sorria.
E  parecia não entender por que o pai do aniversariante lhe servia tanta cerveja!
Tudo passou a ter outra energia, até o gosto da cerveja estava melhor. O bolo foi dos melhores que provei! (e olha que não sou chegada a bolo, mas aquele comi e repeti.)
Os salgadinhos ficaram deliciosos, os docinhos sensacionais.

A música viva!
E ao olhar aquilo tudo sorri com minha tia por vê-la sorrir...
Por ver que eu tinha feito a diferença!
Ao ir embora me despedi do palhaço da decoração. Agradeci-lhe o empréstimo da peruca.
A força...
E sobre tudo o reencontro de mim com a minha essência!
Agradeci pelo palhaço que ele despertou em mim.
...
Naquele dia relembrei o tamanho do poder que podemos ter, da força que move montanhas! E do quanto a alegria contagia...
É possível que eu nunca mais reencontre aquelas pessoas, mas sei que ficarei na lembrança de cada uma ...
Ou melhor minha essência ficará...


O mais genial da essência das coisas é que quanto mais a deixamos pelo caminho, mais ela se fortalece em nós.

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Deixo aqui o aviso:
Tenha
cuidado ao me convidar para sua festa
Ou se quiser me levar de penetra a algum lugar.
Vá que meu palhaço desperte!!!

Aquele abraço!

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